domingo, 17 de julho de 2011

A ILHA SOB A POSSE DOS LORONHA’S

          A vida na Ilha dos Loronha’s começava a ser traçada a partir das relações mercantis que se faziam presentes no mundo moderno. Não era a toa que por muitas e muitas vezes se lançaram ao mar homens com destinos a mundos desconhecidos, mas com um único objetivo: a busca por ouro, prata e pedras preciosas. Esses objetos cobiçados eram determinantes aos cofres das nações européias, detentoras do capital naquela época. E essa imagem não fugia do cotidiano de Fernão de Loronha, que para garantir comércio no mundo novo conquistado, no caso a Terra de Santa Cruz, adquiria como barganha de um tratado comercial a posse de uma terra sem ligação cultural ou de herança com ele. Há quem diga, inclusive, que Loronha nunca aportara pelos mares de cá.
          O historiador Hélio Vianna em sua obra intitulada História do Brasil nos traz a informação que
Verificada, na primeira exploração de 1501/1502, a existência, na nova terra, de pau-brasil, útil à indústria de tintas, resolveu-se em Portugal o arrendamento de sua extração a mercadores de Lisboa, que também se comprometeram a explorar... um dos arrematantes do contrato, o rico cristão-novo Fernão de Loronha, preparou a frota que sob seu comando, ou de outrem, por sua conta, ou com a associação de outros mercadores, veio ao Brasil em 1503... o que positivamente sabemos é que em conseqüência dessa viagem, a 16 de janeiro de 1504 doou D. Manuel I a Fernão de Loronha a ilha de São João... foi essa aliás a primeira capitania hereditária do Brasil, que logo tomou o nome de seu donatário. 
           Rico empreendedor, comerciante e armador, natural das Astúrias, Loronha era representante do banqueiro Jakob Fugger na Península Ibérica. E juntamente com outros cristãos-novos, comerciantes portugueses, obteve concessão para explorar os recursos naturais do Brasil durante três anos. O consórcio financiou a expedição de Gonçalo Coelho nesse mesmo ano.
  Em 1506, Loronha e os sócios extraíram das novas terras mais de 20 mil quintais de pau-brasil, vendidos em Lisboa com um lucro de 400% a 500%. Em 1511, associado a Bartolomeu Marchioni, Benedito Morelli e Francisco Martins, participou da armação da nau Bretoa, que a 22 de julho retornou a Portugal com uma carga de 5 mil toras de pau-brasil, animais exóticos e 40 escravos, mulheres em sua maioria.
  O fato é que o conjunto de ilhas constituía o primeiro ponto, ou experiência, econômica em forma de capitania no novo mundo. E esse feito acontecia muito antes da efetiva organização hereditária na colônia luso-americana, que aconteceria entre os anos de 1534 e 1536. A ilha permaneceu em posse dos Loronha até 1700, quando D. Pedro I, em carta régia de 24 de janeiro, determinou a sua anexação a capitania de Pernambuco.
  Fidalgo português de descendência britânica, Fernão de Loronha converteu-se ao cristianismo provavelmente para escapar da inquisição e também garantir a sua presença no dito comércio. Liderou o consórcio de exploração do pau Brasil nas novas terras portuguesas mediante tributos à coroa, enviando seis navios por ano para tal fim.

Os registros até então encontrados a respeito dessa família cujo brasão foi conseguido pelos muitos serviços prestados ao El Rei D. Manoel, revelam a falta de interesse em povoar, explorar, tampouco desenvolver alguma atividade. Muito mais interessados pela política que os envolvia em Portugal, a Ilha que em 1737 começava a ser reconhecidamente chamada pelo nome de seu proprietário, ficou a mercê de outros povos e nações.

ATIVIDADES DO CENTRO DE PESQUISA

Cabe ao CEPEHC, cadastrar e prestar homenagens aos moradores que vivem em Noronha há mais de 50 anos, homenageando-os todos os anos. Merece destaque, também, os Ciclos de Palestras, as apresentações de trabalhos sobre o tempo prisional da Ilha, em eventos científicos, e as Oficinas Histórico-Culturais para os Condutores de Turismo. As informações dos trabalhos realizados pelo CEPEHC também ajudaram na elaboração do Plano de Ação para as Cidades Históricas de Fernando de Noronha (PAC-FN), em 2009. Ao todo são sete (07) pesquisadores, que se dedicam ao trabalho voluntário de pesquisa, em três frentes de trabalho: uma nas dependências do Arquivo Público Jordão Emerenciano-Apeje-PE (documentos), outra na ilha de Fernando de Noronha (trabalho de campo), e o grupo de estudo (pesquisa). O trabalho realizado no APEJE é uma das maiores intervenções realizadas em torno do patrimônio documental da historia de Pernambuco e da ilha de Fernando de Noronha. Algo que não seria possível sem a cooperação do Arquivo Público, Administração de Fernando de Noronha e o Centro de Pesquisa. Dentro das atividades desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa Noronha Multifacetado destacamos: 1 -FERNANDO DE NORONHA: um cotidiano multifacetado – que tem como uma das metas revisitar a história administrativa e prisional da ilha de Fernando de Noronha, tomando como fonte de investigação documentos que se encontram no Arquivo Público do Estado de Pernambuco (Apeje-PE); 2-PROJETO VOZES: relatos de um tempo – tendo como um dos objetivos resgatar e salvaguardar parte da memória da ilha de Fernando de Noronha entre os séculos XX e XXI e que já nos renderam a participação por tres anos seguidos na homenagem aos moradores antigos da ilha em dezembro de 2007, 2008 e 2009; 3 - PELAS ESTRADAS DE NORONHA – cujo objetivo é integrar as diversas falas sobre a história da ilha sejam essas escritas ou orais (por quem a viveu), deixando que as estradas construídas por pretas pedras nos mostrem esses lugares da história;4 - Uma Outra história de NORONHA - revisitar a história da ilha de Fernando de Noronha a partir dos olhares das crianças e adolescentes moradores da mesma, como um caminho à prática historiográfica.Através desses trabalhos e em consonância com o art. 216 da Constituição Federal de 1988, sobre patrimônio cultural; o Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, sobre proteção do patrimônio; e o eixo 4, item 4 das deliberações da 1ª. Conferência Estadual de Cultura de Pernambuco que recomenda “...mapear, registrar, tombar e preservar o patrimônio histórico arqueológico documental material e imaterial”, pretendemos promover a salvaguarda de parte da memória e da história da Ilha, como mais um veículo a preservação de uma memória insular construção de cidadãos cônscio de seus direitos e deveres sociais, bem como fomentar um sentimento de apreciação de nossa própria história e do patrimônio nacional e disponibilizando às futuras gerações os registros que espelham as múltiplas histórias da Ilha.